Karel Kosik foi um militante e filósofo marxista de origem tcheca. Uma das suas principais e
notáveis obras é o livro Dialética do Concreto, publicado em 1963 que lhe valeu reputação
internacional como um dos mais importantes filósofos do marxismo humanista, obra
da qual fora extraído o texto que passamos a sintetizar.
O mundo da pseudoconcreticidade diz respeito a
existência autônoma dos produtos do homem e a redução destes ao nível da práxis
utilitária.
De acordo com o autor, a atitude primordial do
homem sobre os fatos, coisas e situações não é a de um sujeito cognoscente, ou
seja, daquele que toma conhecimento e examina a realidade para depois inferir
uma ideia, mas de um ser prático agindo sobre a realidade de forma objetiva a partir de seus interesses imediatos.
Desta forma, “o indivíduo cria suas próprias representações
das coisas e elabora todo um sistema correlativo de noções que capta e fixa o aspecto fenomênico da realidade”,
(p.10) distanciando-se da essência, da compreensão das coisas e da realidade. O
fenômeno indica a essência e, ao mesmo tempo, esconde. A essência se manifesta
no fenômeno, mas de modo inadequado, parcial ou apenas sob certos ângulos e
aspectos.
Ao mundo da peseuconcreticidade pertencem: o
mundo dos fenômenos externos, que se desenvolve a parte dos processos
essenciais, o mundo das coisas fetichizadas; o mundo das representações comuns
e o mundo dos objetos fixados, que dão a impressão de serem coisas naturais.
O mundo que é apresentado ao homem não é o
mundo real, é o mundo das aparências embora esse mundo tenha fundamento e seja
considerado como real. Para perceber a estrutura das coisas ou a “coisa
em si” é necessário um esforço e um desvio e para isso é necessário que o
homem, já antes e iniciar qualquer investigação, tenha consciência do fato de que existe algo suscetível de ser
definido como estrutura da coisa e de que existe uma oculta verdade da coisa.
O processo dialético emerge como condição de
desreificar os fatos e fenômenos. A coisa. Como a essência não se manifesta
diretamente, deve ser descoberta mediante uma atividade peculiar,
aí entrando o trabalho da ciência e da filosofia.
O conhecimento é a própria dialética em uma das
suas formas, é a decomposição do todo, sem a qual não há conhecimento. Assim, o
pensamento que destrói a pseudoconcreticidade é um processo do qual “sob o
mundo da aparência se desvenda o mundo real; por trás da aparência externa se desvenda
a lei do fenômeno; por trás do movimento visível, o movimento real interno; por
trás do fenômeno, a essência.” (p. 16)
A realidade- muito bem destacada pelo autor-
oculta pela pseudoconcreticidade, é o mundo da práxis humana. É a compreensão
da realidade humano-social como unidade de produção e produto, de sujeito e
objeto, de gênese e estrutura. O mundo real não é portanto, um mundo de objetos
“reais” fixados. É um processo de curso no qual a humanidade e o indivíduo
realizam a própria verdade, é um mundo em que a verdade não é dada e
predestinada, não está pronta e acabada. “A destruição da pseudoconcreticidade
significa que a verdade não é nem inatingível, nem alcançável de uma vez para
sempre, mas que ela se faz; logo se desenvolve e se realiza". (p. 19)
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